"Segurança é uma Profissão, ou Não?”
- Escrito por Edilson de Souza Melo
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Estamos iniciando mais uma nova fase, um site voltado à discussão acadêmica e profissional sobre a “Prevenção de Perdas”, dando voz a todos aqueles que buscam contribuir para o crescimento da cultura de segurança.
Todos nós, somos solicitados a fornecer novas informações, buscar conhecimentos e sermos capazes de democratizar estes dados. Temos que estar conscientes: informação é poder.
Porém, é a nossa capacidade, de dividir tais informações e idéias, que resultarão no “verdadeiro poder”.
Peter Drucker em seu livro Administrando em Tempos de Grandes Mudanças, Editora Pioneira-1999, cita:
“...conhecimento é poder, razão pela qual quem o tinha no passado costumava mantê-lo em segredo. ... o poder provém da transmissão das informações e torná-las produtivas, e não ocultá-las.”
Com este objetivo, buscando o aumento de nossa cultura de segurança, fomentando a curiosidade, o debate e a divergência elaborei dois textos para reflexão. Não sou e nem pretendo ser em momento algum dono da verdade.
"SEGURANÇA É UMA PROFISSÃO, OU NÃO?”
Elaborei:
Tese: Diretor, profissional de segurança uma profissão do presente e com futuro.
Antítese: É a segurança uma profissão?
Tese:
Diretor, Profissional de Segurança.
Uma profissão do Presente e com Futuro
“Ser o que sou, não é nada sem segurança”, Alguém declarou isto no final do século XV. Ele que assim pensava tinha já uma concepção muito mais evoluída da segurança que as outras pessoas da época. Hoje o que se pede é que seja respondida a pergunta:
Gestor de Segurança, Segurança, é uma profissão ou não?
Centrando a questão em nosso país, se pode afirmar que durante os últimos anos, com certa lentidão, porém com grande firmeza, se está consolidando a figura do profissional de segurança na maioria das organizações empresariais. Este processo reorganizativo é similar ao que se produziu alguns anos atrás com os assuntos de pessoal que se centralizaram em uma área de Recursos Humanos.
Realizando uma pequena análise das últimas décadas, se pode afirmar que a sociedade existente não identificava a necessidade de segurança, a não ser que a relacionada com certos setores econômicos ou empresariais do país, ou ainda necessidades legais ou por solicitações das matrizes de empresas multinacionais, quais estabeleciam a adoção de medidas dissuasórias mínimas. Na maioria das vezes se transferiam os riscos a uma política de seguros com a idéia de que a cobertura da responsabilidade civil e o ressarcimento pudessem repor ou reparar os bens destruídos.
Posteriormente a sociedade veio solicitar um nível maior de segurança, além deste fato, a legislação estabeleceu níveis mínimos de segurança para determinadas atividades com riscos específicos. Todos estes fatos trouxeram consigo uma reação por parte das organizações que adotaram por criar um departamento de Segurança, ou atribuir a um departamento existente esta função.
Ainda não é estranho encontrar organizações onde o Departamento de Segurança depende do chefe de Recursos Humanos ou do Departamento de Produção, Comercial, Administração ou outro.
Perspectiva de Futuro
A evolução relacionada anteriormente continua, e se observa de forma ostensiva que as empresas precisam integrar em seu planejamento estratégico e em seus órgãos de direção, a segurança. Isto sim, uma segurança que se apresente e seja eficaz e eficiente.
Neste âmbito a empresa deve assumir o conceito de Direção/Gestão de Segurança, dirigida à proteção e prevenção do patrimônio da organização dentro dos seguintes campos:
• Pessoas (colaboradores, visitantes, clientes e público).
• Bens (Tangíveis e Intangíveis) • Informações (Informática, Dados, Planos Estratégicos, Projetos)
• Prevenção de Perdas
• Meio Ambiente (Administração de resíduos, Gestão de Contaminação, etc).
Como se pode observar, integrar todos os campos é complexo, porém nunca podemos duvidar que segurança é gestão, gerenciamento, administração, ou seja, há que se demonstrar que o proposto é rentável à organização.
Estou convencido de que as empresas, cada vez mais detectam a necessidade de contar com profissionais que sejam capazes de gerenciar a proteção e a prevenção da empresa, logrando otimizar e customizar os recursos econômicos, humanos e tecnológicos. Resta fazer compreender a algumas empresas que a função de Direção/Gerência não é unicamente uma função técnica, mas de direção.
O Diretor/Gestor deve:
Ser capaz de pensar, falar e trabalhar como um homem de negócios.
Planejar o serviço necessário em função das necessidades e interesses de sua própria organização.
Trabalhar em função de objetivos com as corretas prioridades.
Manter contatos com organismos governamentais locais, regionais e outros que se ocupam de segurança e proteção da comunidade.
Conceber, organizar, dirigir, controlar administrar e avaliar seu próprio departamento.
Tratar de assuntos diversos, não usuais e perigosos.
Esta mudança de visão deve ser administrada com habilidade para convencer, não somente a direção, de que proteger e prevenir criará um fator diferencial na busca da competitividade e liderança. Ao Diretor/Gestor de segurança está reservado um importante papel nas organizações, deve participar ou ao menos conhecer os planos estratégicos, opinar, assessorar a alta direção da empresa e coordenar seus esforços com todas as áreas e departamentos da organização.
Finalmente, como gestor de seus próprios recursos, entre os quais se incluem os econômicos, o Diretor/Gerente de Segurança há que ter capacidade, imaginação e criatividade de prever acertadamente, apesar das incógnitas e hipóteses pouco prováveis. Para gerir corretamente suas propostas.
Conclusão
O conceito integral de proteção do patrimônio e prevenção de perdas necessita de uma direção única que planifique, otimize e coordene esforços e recursos que as organizações possuem, atualmente dispersos em vários departamentos, e se responsabilize por sua administração de gestão.
A figura do Diretor/Gestor de Segurança dá resposta às demandas das empresas já que se trata de pessoal profissional com fundamentos técnicos e operacionais para permitir integrar-se nas organizações com métodos modernos de gestão.
Ser o que é, não é nada sem segurança.
Antítese:
É a segurança uma profissão?
Não creiam que tenho espírito de rebeldia. Sou perfeitamente consciente que estou escrevendo para profissionais de segurança, Gestores de Segurança e Estudantes de Graduação. Conheço e valorizo as pessoas que trabalham na área de segurança, mas não poderia deixar de exercitar-me nestas duas visões sobre o assunto, completamente antagônicas, de maneira mais ou menos “acadêmica”. Porém tenho que guiar-me pela minha experiência.
Nas empresas para as quais trabalhamos observamos, no que se refere aos operacionais da segurança têm um perfil bem definido. Pouca formação básica, ou seja, pouca cultura geral, e alguma formação específica em matéria de segurança, que normalmente se reduz a um treinamento de defesa pessoal e outras técnicas de defesa e ataque; também é comum encontrar um déficit em habilidades sociais, o que ocasiona não poucos problemas nos afazeres diários.
Tudo isto, até agora, não deveria ser alarmante. Em definitivo, um profissional de segurança em sua vertente operacional tem os “conhecimentos” de que necessita, e se o mercado impusesse outro tipo de conhecimento, sem dúvida o teria. Salvo raras exceções, todos estão dispostos a realizar os esforços necessários para consolidar-se em seu posto de trabalho. Definitivamente, o problema não são os operacionais de segurança.
A raiz do problema está nos chefes dos operacionais. Normalmente, são pessoas com um perfil mais ou menos parecido ao dos operacionais, porém com muito mais experiência, o que garante também um melhor acompanhamento das situações. Porém sempre falamos de situações operacionais, e sempre dentro de seu campo de atuação. Uma coisa que caracteriza os chefes de segurança (ao menos alguns dos que tenho tratado), é sua incapacidade para pensar e ver a empresa de forma global. Para eles, a eficácia de seu trabalho se mede em sua capacidade de dissuasão e repressão, mesmo que leve a resultados negativos para a imagem da empresa, que final das contas reflete nos resultados desta. Poderia contar um sem-número de piadas, algumas até divertidas, se não fosse porque a atuação da equipe de segurança ter ocasionado mais problemas do que o que se pretendia evitar. No entanto, não posso resistir a tentação de falar de casos mais freqüentes e que encontram mais resistência na hora de explicar-se ao “Chefe de Segurança”, qual deve ser a política neste sentido.
Se refere ao que acontece quando um operacional de segurança detecta que alguém se apoderou de algo e este não quer passar com o objeto pelo caixa. Em alguns casos, existem operacionais que atuam independentemente do valor do objeto subtraído, e o mais importante, do valor adquirido (ou melhor do valor que a pessoa irá adquirir). Qualquer psicólogo sabe que a cleptomania é um impulso humano que tema ver com a busca de sensações, por um lado, e a impossibilidade de inibir o impulso, por outro. Normalmente, o cleptômano subtrai coisas de pouco valor, ou seja, realiza compras no valor de mil reais e subtrai algo no valor de cinqüenta. Se é detectado (e a maioria das vezes o é), por quê apesar dos esforços da direção da empresa, do equipamento de segurança, atua com a mesma atitude sem levar em conta o perfil do “delinqüente” e o valor subtraído?
O exemplo anterior serve perfeitamente para ilustrar minha opinião de que a segurança, pelo menos em sua vertente Diretora , não é uma profissão. Certo é que em muitas empresas, a segurança é, um conjunto de medidas operacionais de reação, às vezes, desordenadas e nocivas à empresa, porém não é menos certo também que nestas empresas a segurança é aquela que se pode implementar para cobrir suas necessidades. Salvo raras exceções o ponto mais fraco são os operacionais que vêm respondendo às diferentes contingências que se colocam com mais ou menos fortuna. Francamente não tenho visto, todavia, nenhum destes profissionais, perguntar, na hora de estabelecer um plano de segurança, pela política, pela missão e objetivos da empresa; tampouco os tenha ouvido falar com propriedade de política e estratégia empresarial, apenas para dar dois exemplos.
Não nego que o empresário, também tenha sua parcela de responsabilidade. No primeiro caso, porque são muitas as organizações onde as decisões que impliquem no rumo ou na política que a empresa deve tomar, fique exclusivamente nas mãos do gerente ou diretor-geral, delegando aos demais gerentes apenas a função “executiva”. Assim podemos encontrar exemplos para todos os gostos, desde o gerente que encabeça a estrutura piramidal, onde não há decisão que não passe por suas mãos, por pequena que seja, até organizações com um organograma dinâmico, estruturado em blocos ou em “margarida”, onde todos e cada um dos colaboradores tem seu nível de “empowerment”. Quem dera todos os fatores se combinem e no final resulte que a empresa chegue a conclusão de que este “manager” em segurança, capaz de entender a organização onde trabalha, capaz de conhecer o produto, o mercado, as finanças, os fornecedores, a logística, os clientes, em suma, capaz de seguir o caminho que a organização tenha traçado em todas suas frentes, porém na realidade este não existe, e conformando-se acabam aceitando a evidência de que, dado que não existem verdadeiros “managers” em segurança, tampouco existirá a função de segurança empresarial.
No momento as coisas se apresentam assim e não acredito que a mudança ocorra em curto espaço de tempo.
Para isto, seria necessário um responsável por segurança que entenda o contexto no qual a empresa está inserida, para entendê-lo, é necessária uma formação integral que compreenda os conhecimentos estratégicos, táticos e técnicos da segurança, e por outro lado, um conhecimento profundo da organização empresarial. Não é necessário dizer que dificilmente se encontrará tal profissional. Quem sabe dentro de um tempo, com outros profissionais que tenham recebido outra formação, com outra bagagem, as coisas sejam diferentes.
Até então, fico com a confidência que um Gerente de um importante grupo empresarial me fez algum tempo atrás:
“antes, tínhamos problemas de segurança que nos ocasionavam algumas perdas;
agora, temos problemas “com” a segurança que nos ocasionam outras perdas;
há dias em que penso ter sido pior o remédio que a enfermidade”.
Espero que estas duas visões tenham colaborado para darmos início à nossas discussões sobre este tema e outros, tornando mais dinâmica nossa atuação.
Edilson de Souza Melo
Edilson de Souza Melo, Security Officer formado pela IMI – Israel Military Industries, Consultor em Segurança, com grande experiência em Planejamento de Segurança atuando em Grandes Condomínios e Empresas. Participei da Equipe de Projetos Especiais do Banespa e funcionário da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – Departamento de Inteligência.